A câmara e os deputados
Vivemos num ambiente estúpido, repleto de grosseiras
atitudes, sem nos permitir viver com o mínimo de tranquilidade e segurança. Muitos
vivem na mais permanente crise de abstinência, quando prefere evitar as
informações divulgadas pela mídia. Falta-nos paciência e raciocínio quando vemos
casualmente qualquer programa “jornalístico” na televisão. Entendemos que
acabaram com o mínimo de cuidado com o fato, a notícia objetiva e clara.
Preferem agora distorcer, ao seu gosto pessoal, relatando muitas vezes opiniões
ideológicas, estuprando a verdade, emitindo juízo de valor, inventando e mentindo
até. Se é opinião, assine e assume; se é notícia, seja honesto.
Agora os acontecimentos com o deputado Daniel Silveira, preso
de forma considerada ilegal e truculenta, com a polícia invadindo a sua casa
mais de onze horas da noite, a título de cumprir prisão em flagrante, através
de um mandado judicial expedido pelo ministro tido como truculento e arbitrário
Alexandre Moraes, sempre ele a executar esses tipos de violência em nome dos
colegas do supremo. Não poderia, não deveria, dizem, mas o fez e, pior, está
feito. Inimaginável o que não faz e ou não faria um homem desses com qualquer
um de nós, porque, na verdade, nós, meros normais da plebe bem rude, já não
dispomos de qualquer garantia individual no dia a dia, expostos ao humor dos
agentes públicos de um modo geral, principalmente policiais.
Quem somos nós pra comentar o julgamento do deputado preso,
partindo dos fatos que lhe foram apontados como crime se lemos que o mesmo,
como deputado, está imune de qualquer punição pelo que diz. É a lei, está
claro, bem entendido, sem dúvida. E se o direito é lógica, (exclusivamente
lógica sem essa de bom senso ou interpretação) o deputado federal de um modo
geral não podia ter sido preso pela sua opinião; crimes hediondos e inafiançáveis
entende-se como outra coisa
Mas se as falas do deputado se agravaram lembrando do AI-5,
que pouca gente sabe o que é, no mérito o evento de agora seria igualmente
considerado uma truculência, arbitrariedade tão violenta como teria sido aquela
de outrora, porque esta desrespeita o direito e a lei maior, aquela o arbítrio
era a lei maior porque em pleno regime revolucionário. E o fato surpreendente é
que a câmara dos deputados, com maioria esmagadora, aprovou e confirmou o mandado
de prisão do deputado, aparentemente legitimando o que se chama de arbítrio, mas
se entende que na lógica foi ampliada e expandida a ilegalidade, escancarando
uma subserviência humilhante e totalmente inexplicável e até inaceitável.
Uma turba avançou em cima de um “deputadozinho bolsonarista”,
linchando-o e execrando-o porque certamente ele acreditou, e disse isso, que
podia confiar na aplicação da lei e desde então classificando as suas falas
como não criminosas. Achou que seria preso e que no outro dia voltaria para
casa, que a câmara mandaria soltá-lo. Se enganou feio, seus colegas condenaram-no
impiedosamente. Vai amargar uma cadeia por tempo indeterminado, ao gosto da
vingança cruel e odiosa de seus desafetos. Sua cabeça ainda será definitivamente
entregue aos algozes, com a cassação de seu mandato.
Calúnia, injúria e difamação teriam o campo próprio para
tramitar, mas por esses sempre têm a retratação, ou até mesmo o contraditório e
até a exceção da verdade ou ainda a notoriedade do fato imputado; não haveria o
castigo exemplar para o presente e nem para o futuro.
Seriam outros quinhentos mil réis...